quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Sede



Há uma letra que me dói repetitiva.
Um ressonar intruso que me invade sem permissão,
Tirando a minha calma.
Um fonema vibrante, que em alto e bom tom
Toma-me a qualquer hora do dia.
É sem escrúpulos e nunca me poupa.
Quer ser ouvido, espalhar-se, enlouquecer-me.
Enquanto eu só desejo esquecer essa exigência aflita,
Esse desconforto.

Esse nome, que transita entre o sentido e o desconexo, é você.
E ao mesmo tempo é outro,
Ás vezes até me parece prescindir de um rosto.
Mas o nome é sempre o mesmo.
E grita insistente.
Como um vazio, que tudo arrasta para dentro de si.
Um vácuo. Quer engolir o mundo, pôr no lugar.
Preencher o espaço de onde você me escapa.
E assim, quem sabe,
Saciar esse tipo de sede que é existir.



Um comentário:

  1. A letra, o fonema, a palavra nos procura e nós também os procuramos. E tudo é desencontro. É sede insaciável. Somos o livro raro e certa palavra dorme em nossa sombra, como diz Drummond:
    "Certa palavra dorme na sombra/de um livro raro./Como desencantá-la?/É a senha da vida/a senha do mundo./Vou procurá-la."
    E como a sede não se sacia de algo que há em nós por nós e de nós por algo que não sabemos, conclui Drummond no mesmo poema:
    "Procuro sempre, e minha procura/ficará sendo/minha palavra."
    Kattlyn, a leitura é sempre uma viagem. E as sensações e reflexões que provocam no leitor são sempre imprevisíveis. Lindo texto!

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