sábado, 7 de janeiro de 2012

Fantasia para os dias de festa!


Hoje eu queria uma festa. Gente falando, gente dançando, gente bebendo. Pessoas por todos os lados. Cada um com seu desejo, consciente ou não. Festas são encontros marcados com o que há de mais pulsante dentro da gente. Com aquilo que grita no fundo da alma querendo sair e a gente nem sabe dar nome. Uma esperança de sabe-se lá o quê. Quem vai a uma festa sempre espera. Nem tanto das festas de família, aquelas com convites, presentes e parentes. Festas de hora marcada. Mas muito das festas que a gente inventa. Aquelas noites em que a gente decide se encontrar com o que há de mais verdadeiro em nós. E para isso não tem hora.

É uma vontade de ir. De descobrir, de despertar sensações adormecidas. Uma crença de que o mundo é um lugar bem mais divertido, mais mágico, mais envolvente. Um baú de surpresas prontas a se esparramarem pelo chão, como caixa de brinquedos. O corpo imagina as possibilidades, a mente desenha as façanhas, e cedendo a esse entusiasmo súbito, vestimos a melhor roupa, e saímos. Vamos atrás da nossa festa.

Mas é preciso ter olhos para encontrar do lado de fora, a festa que começamos por dentro. É preciso não se deixar contaminar pela crueza do mundo real. Talvez seja essa a função da bebida nas prévias noturnas: manter uma atmosfera onírica. Fazer com que a realidade e as nossas pinturas internas se confundam e a gente não consiga distinguir onde começa uma e termina a outra. Algo como um sonho. Algo como dar vida e voz ao nosso mundo secreto, e deixá-lo misturar-se despudoradamente a tudo ao redor.

É preciso ter olhos de Cinderela: ver uma carruagem onde há apenas abóboras, cavalos no lugar de ratos, beleza e magia no lugar onde há gente comum e lugares triviais. Porque o encanto das coisas quase nunca parte delas mesmas, mas da forma como a olhamos. Para entender, basta lembrar-se das coisas e pessoas que você amou, e já não ama mais. Porque será que o encanto que havia ali acabou-se? Eles mudaram ou foi você que mudou o seu olhar?

Por isso, nesses dias de festa, o mais importante não é vestir a melhor roupa, mas sim a melhor fantasia. São elas, as fantasias, que transformam coisas comuns em coisas surpreendentes. São elas que nos fazem enxergar um algo a mais em nós e nos outros, é ela que faz com que a gente se apaixone. A fantasia é uma forma muito pessoal de espalhar encantos. É como uma bruxaria capaz de mudar a natureza das coisas.

Então eu sugiro: Nas noites em que você decidir que quer viver uma festa, que quer provar o gostinho do mundo e mergulhar na sua própria fantasia, pegue sua varinha de condão e trate de espalhar feitiços por aí. Acredite: você tornará sua vida mais encantada a partir de seu próprio encanto.

3 comentários:

  1. Você tem talento para cronista. E sua forma de ver essas aspectos íntimos e sublimados da vida conseguem ter a boa medida de leveza de alma que fazem os textos tão saborosos. Parabéns.

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    1. Acredita que só hoje vi seu comentário... Obrigada João Paulo! Gostei muito de ter sua opinião sobre os meus textos. Abraços!!!

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  2. O ser humano não é só natureza. Ele sempre quer se auto-transcender. Ele não é só matéria. É mais, muito mais. É sonho, maravilha!
    Lendo seu texto fluido, sempre de agradável leitura e beleza, percebo a importância da literatura em mundo mecanizado e materialista que não leva em conta a real necessidade humana. A literatura, a arte em geral, desmonta, mesmo sem essa direta intenção, o sistema desumanizante. Daí, não só a beleza, mais a importância do que você escreve, Kattlyn. Cito o escritor José Castello: "Vivemos imersos em um grande mar que chamamos de realidade, mas que - a literatura desmascara isso - não passa de ilusão. A "realidade " é apenas um pacto que fazemos entre nós para suportar o "real". A realidade é norma, é contrato, é repétição, ela é o conhecido e o previsível. O real, ao contrário, é instabiliade, surpresa, desassossego. O real é o estranho."

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